quarta-feira, 20 de abril de 2011

Macacos e trânsito

31 de Outubro de 2007

            Deve haver uma relação directa entre o trânsito acumulado e a quantidade de macacos que se acumulam nos condutores de automóveis. Só pode haver. É que assim que o carro pára, a malta desata a fazer limpeza ao «sótão». Freneticamente, como se não houvesse amanhã. Uns ainda tentam disfarçar. Mas a maioria aplica-se com uma convicção confrangedora. Enfiam os dedos por aquelas narinas adentro como se tivessem uma granada lá dentro prestes a rebentar. Mas o problema é que os macacos também têm vindo a evoluir ao longo dos anos e de geração para geração. Normalmente aproveitam o pára arranca e o facto de o condutor ir metendo mudanças para mudarem de posição e assim complicar mais a tarefa. Os macacos não se deixam apanhar facilmente. Dão luta. É preciso escarafunchar. Ir atrás deles. Se não estão aqui é porque devem estar mais acima. Há condutores que até se elevam nos bancos na esperança de os entalarem entre a narina e o tejadilho. Daqui já não me escapas. Agora é só espetar-lhe a unha e retirá-lo à força. Quando o objectivo é cumprido, vê-se logo pelo ar satisfeito do condutor. Uns ficam tão contentes que resolvem comê-los logo ali sem dó nem piedade. Devia haver uma petição ONLINE para protestar contra esta atrocidade. Outros mais experientes colam-nos no tablier do carro e deixam-nos secar. Penso que devem gostar deles mais estaladiços. Outros apanham-nos à ida e comem-nos no regresso. Seja como for, comem-nos. Mas também há aqueles que não são desses, dos que comem macacos, e tentam pô-los num sitio qualquer. Mas onde? Até dá penas ver os olhos dos condutores que, em pânico, tentam pespegar com aquele animal ranhoso num sitio qualquer e, se possível, da maneira mais discreta. Uns tentam mandá-los janela fora. Os menos consistentes são mais difíceis. Têm de ser sacudidos violentamente e isso dá mais nas vistas. Os outros acabam, a maior parte das vezes, enrolados entre dois dedos, em bolinhas, muito bem feitas de depois, com ar descontraído e a mão ligeiramente fora da janela, são sacudidos com um ligeiro piparote.
            Enfim, à semelhança dos condutores das grandes cidades, os macacos urbanos também não têm uma vida fácil.
            Mas mais estranho ainda são os que se assoam.
            Uma raça em vias de extinção.
            Eu, se mandasse proíba as pessoas de tirar macacos nas estradas portuguesas. Querem tirar macacos, façam-no em casa, ao jantar ou ao ver a novela. Já não há-de faltar muito tempo para que seja proibido. Aqui há uns anos podia-se conduzir com álcool, à vontade, mas agora ninguém brinca. Até já se controlam as drogas. A coisa não está fácil. E acho muito bem.
            Eu sei que é ridículo mas, às vezes penso que, ainda um dia, vão controlar os macacos ingeridos. Só não sei é se a malta aguenta?! Olhem, que não sei!
            É polémico e controverso! (:

António Feio, “Aproveitem a vida”

Sem comentários:

Enviar um comentário