terça-feira, 17 de maio de 2011

segunda-feira, 16 de maio de 2011

domingo, 15 de maio de 2011

encontrei um dia um homem

Encontrei um Homem.
Perdi a memória do autor; mas não a do texto, que aqui segue.
“Encontrei um dia um homem com fome
e eu que tinha cinco pães, não lhe dei um. (Jo. 6, 1-15)
Encontrei um dia um homem com sede de água (Jo. 4, 1-42)
e eu que era irmão da samaritana, disse que não tinha balde.
Encontrei um dia um homem carregando com uma cruz (Lc. 23,26)
e eu que também me chamava Simão, não fiz de Cireneu.
Encontrei um dia um homem nu (Lc. 3,11)
e eu, que tinha duas túnicas, não lhe dei uma.
Encontrei um dia um homem, cego de nascimento (Jo. 9, 1-12)
e eu, que era professor, não lhe dei a luz.
Encontrei um dia um homem sentado no último lugar (LC. 14, 7-11)
no banquete dos meus anos;
e eu que era o dono da festa,
não o convidei, a vir mais para cima.
Encontrei um dia um homem paralítico (Jo. 5, 1-9)
e eu que tinha os dois pés, não o ajudei a caminhar.
Encontrei um dia um homem na praça da vida (Mt.20-1-16)
à espera de trabalho; e eu que era latifundiário
deixei-o ficar.
Encontrei um dia um homem que dizia: (Mt.3,1-12)
“arrependei-vos, endireitai os caminhos do espírito”
e eu que não gostava de sermões,
mandei-lhe cortar a cabeça.
Encontrei um dia um homem, que regressava andrajoso
à casa paterna; e eu que era cristão cumpridor, fiz o papel
do irmão mais velho. (Lc. 15, 11-32)
Encontrei um dia um homem a caminhar
na estrada da minha vida,
e eu que também ia para Emaús, (Lc. 24, 13-35)
não vi que era Cristo”.



apesar de não ser da minha autoria, merece lugar de topo neste blog.
Palavras

Vês o mar e dizes barco,
vês o sol e dizes sede,                                                                
olhas a lua num charco,
vês um peixe numa rede.
Vês a noite e dizes sono,
vês a luz e faz-se dia,
claridade que chega
com um fio de melodia.
Cada coisa que tu dizes
é apenas um começo,
é a fala a ganhar corpo,
o silêncio do avesso.
Cada coisa que tu sonhas
há-de ser depois contada
com a roupa das palavras
à fala bem ajustada.

E aquilo que tu dizes
há-de dar voz ao que sentes
porque a fala é um canteiro
onde os sons são as sementes.
E aquilo que tu sentes
passa de avós para netos,
é o livro onde se guarda
o tesouro dos afectos.

José Jorge Letria, Versos para os pais lerem aos filhos
em noites de luar, Ambar, 2003